domingo, 30 de agosto de 2020

Canção de Embalar de Auschwitz

 Auschwitz II - Birkenau, considerado o pior campo de concentração do Holocausto.
Helene como era ariana e alemã não foi intimada, mas seguiu para o campo de concentração voluntariamente para acompanhar a sua família.

 

 A Canção de Embalar de Auschwitz é um livro baseado em factos verídicos e conta a história de Helene Hannemann, enfermeira e ariana alemã que casa com Johann, um cigano violinista, e que com ele tem cinco filhos, dois dos quais gémeos. A história começa quando em 1943 as SS batem à porta desta família para levar Johann e os cinco filhos de Helene para o campo de concentração de

Após a viagem horrível de comboio até Birkenau, Helene e os seus filhos são separados de Johann que vai para outro campo de trabalho. Sozinha com os seus cinco filhos, Helene é maltratada como qualquer outro elemento do campo, no entanto e após se voluntariar para ser enfermeira no Hospital de Birkenau, as suas condições melhoram um pouco mais, conseguindo ajudar também as mulheres e crianças que a rodeavam.

Tudo muda com a chegada do Doutor Mengele a Birkenau para dirigir o hospital do campo. A personalidade forte de Helene fez com que o Doutor Mengele a convidasse a gerir uma creche em Birkenau e isso fez com que as condições de vida dela e dos seus filhos mudasse consideravelmente e inclusive conseguisse um visto para ver o seu marido. Com a abertura da Creche, Helene conseguiu salvar muitas crianças da morte e conseguiu criar alguma esperança, uma vez que naquele espaço as crianças tinham acesso à alimentação e acesso à educação que de outra forma não lhes era possível. Helene via em Doutor Mengele alguma humanidade, ainda que lhe intrigasse as razões e o seu olhar estranho. Até que descobre os verdadeiros motivos da creche: O Doutor Mengele precisava de crianças fortes e saudáveis, essencialmente dos gémeos, para as suas horríveis experiências.

Não vos sei dizer se gostei ou não do livro. Como dizer que se gosta de um livro onde a barbárie impera? Como dizer que se gosta de um livro que nos faz sofrer e nos faz chorar e nos faz odiar os humanos? Não vos posso dizer que gostei do livro, mas posso dizer-vos que o devorei, que me amarfanhei toda e que o senti de uma ponta à outra como se fosse uma faca que se me cravasse no coração.

Não vos sei dizer porque leio estes livros, não vos sei dizer o que me atrai nestes livros, mas a verdade é que é uma temática que me suscita a ler mais, desde o primeiro livro que li sobre o Terceiro Reich: O Diário de Anne Frank. Desde então sempre me interessei por livros sobre a II Guerra Mundial, por documentários e pelos filmes que retratam a época. No entanto, não vos posso mentir, a cada livro que leio, a cada filme que vejo, a cada documentário que assisto, uma pequena parte de mim morre.

Helene via alguma humanidade em Mengele, eu, já conhecendo histórias deste sujeito, já imaginava o propósito da creche, mas ainda assim tenho consciência que de uma forma ou de outra aquelas crianças iriam morrer - aliás normalmente nos campos de judeus as crianças nem chegavam a viver no campo, eram logo encaminhadas para as câmaras de gás assim que chegavam - por isso tenho consciência que a existência daquela creche - ainda que com um propósito errado - permitiu a muitas crianças que ali cresceram, serem um pouco mais felizes. A creche tinha baloiços, tinham projetores de cinema com filmes infantis, papeis, canetas, ...

Confesso que é a primeira vez que leio sobre os campos de ciganos.

Sempre que se fala do Holocausto, fala-se quase sempre nos judeus, e os homossexuais e os ciganos acabam por viver um pouco na sombra dos judeus. No entanto estima-se que dos mais de 22 mil ciganos que entraram em Birkenau, apenas poucos mais de 3000 tenham sobrevivido. São números assustadores. Ainda assim, e confrontando o que já li sobre os campos de concentração de judeus e os dos ciganos, os ciganos eram - dentro do que era possível ser - mais bem tratados que os judeus, não me pareceram tão controlados quanto os judeus eram. Não me recordo de os judeus poderem "passear" pelo campo, e aqui os ciganos podiam efetivamente fazê-lo, podiam visitar outras barracas, e não eram submetidos a trabalhos forçados.

Algo que me choca bastante nestes relatos - e que já tinha constatado n'Os Sete Últimos Meses de Anne Frank - é a capacidade de pessoas conseguirem fazer mal a seus semelhantes. Acho que mais do que as SS e os Nazis exterminarem pessoas, choca-me a agressividade dos Kapos, que eram prisioneiros que em troca de alguns privilégios ficavam encarregues de vigiar e maltratar outros prisioneiros do campo. Assusta-me a capacidade cruel dos humanos.

Se forem como eu e se se interessarem por esta temática, leiam este livro, caso contrário, não o façam, porque se por um lado passa uma mensagem de esperança, por outro lado mostra algumas das atrocidades dos estudos do Doutor Mengele, mostra muitas das atrocidades que muitas mulheres e crianças foram sujeitas e é um livro que nos esgota a alma... É bastante descritivo e violento

A minha ficou esgotada...