terça-feira, 21 de março de 2017

Verão Quente [Bragança]

Foi ontem, mas passaram quarenta e dois anos e ainda hoje sinto o cheiro do queimado que ali bem perto da minha casa um carro novinho, amarelo parecia um ovo estrelado, Toyota ardia no meio de risadas de homens mal calçados que bracejavam e vociferavam palavras incompreendidas ainda por muitos e nem sabiam bem o porque de tal acto.
O casal no início das suas carreiras viu-se afugentado e obrigado a deixar para trás tudo menos o medo que levaram consigo para longe.
Perdi-lhe o rasto até aos anos noventa, soube que andariam pelo Hospital da Figueira da Foz. Hoje possivelmente aposentados a disfrutar daquela que foi também a minha praia.
Este livro fez-me lembrar o quanto quente era o Verão em Bragança.


Em 1975, no auge do Verão Quente, com Portugal à beira de uma guerra civil, Julieta é encontrada inanimada e cega, depois de cair pela escada, na sua casa de família na Arrábida. E, num dos quartos do primeiro andar, são descobertos, já mortos, o seu marido, Miguel, e a sua irmã, Madalena. Seminus e ambos atingidos com duas balas junto ao coração, as suas mortes levam o tribunal a condenar Julieta pelo duplo homicídio. Vinte e oito anos depois, em 2003, a cegueira traumática de Julieta desaparece e ela volta a ver. Começa também a recordar-se de muitos pormenores daquela tarde trágica em que aconteceu o crime, e em conjunto com Redonda, a sua bonita filha, e o narrador da história, vão tentar reconstituir e desvendar o terrível segredo da Arrábida, que destrui aquela família para sempre. Quem matou Miguel e Madalena e porquê? Será que eles eram mesmo amantes, como a polícia suspeitou? Será que Julieta descobriu a traição infiel do marido e da irmã? Ou será Álvaro, ex-marido de Madalena e um dos «Capitães de abril», o mandante daquele crime?  

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