Foi ontem, mas
passaram quarenta e dois anos e ainda hoje sinto o cheiro do queimado que ali
bem perto da minha casa um carro novinho, amarelo parecia um ovo estrelado, Toyota
ardia no meio de risadas de homens mal calçados que bracejavam e vociferavam
palavras incompreendidas ainda por muitos e nem sabiam bem o porque de tal
acto.
O casal no início das
suas carreiras viu-se afugentado e obrigado a deixar para trás tudo menos o
medo que levaram consigo para longe.
Perdi-lhe o rasto até
aos anos noventa, soube que andariam pelo Hospital da Figueira da Foz. Hoje
possivelmente aposentados a disfrutar daquela que foi também a minha praia.
Este livro fez-me
lembrar o quanto quente era o Verão em Bragança.
Em 1975, no auge do Verão Quente, com Portugal à beira
de uma guerra civil, Julieta é encontrada inanimada e cega, depois de cair pela
escada, na sua casa de família na Arrábida. E, num dos quartos do primeiro
andar, são descobertos, já mortos, o seu marido, Miguel, e a sua irmã,
Madalena. Seminus e ambos atingidos com duas balas junto ao coração, as suas
mortes levam o tribunal a condenar Julieta pelo duplo homicídio. Vinte e oito
anos depois, em 2003, a cegueira traumática de Julieta desaparece e ela volta a
ver. Começa também a recordar-se de muitos pormenores daquela tarde trágica em
que aconteceu o crime, e em conjunto com Redonda, a sua bonita filha, e o
narrador da história, vão tentar reconstituir e desvendar o terrível segredo da
Arrábida, que destrui aquela família para sempre. Quem matou Miguel e Madalena
e porquê? Será que eles eram mesmo amantes, como a polícia suspeitou? Será que
Julieta descobriu a traição infiel do marido e da irmã? Ou será Álvaro,
ex-marido de Madalena e um dos «Capitães de abril», o mandante daquele crime?
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